Rumo a um partido legal?
Qual será o futuro dos Irmãos Muçulmanos? Transformar-se-ão em partido político? Estas questões lancinantes, mas até há pouco tabu, foram relançadas pela nova página que o escrutínio presidencial pluralista de 7 de Setembro veio abrir. Paradoxalmente, o debate foi desencadeado por Rafiq Habib, escritor e intelectual copta evangelista, muito próximo dos quadros quadragenários dos Irmãos, através de uma série de artigos publicados no Afaq Arabiya (Perspectivas Árabes), um jornal próximo dos Irmãos Muçulmanos, bem como pelo sítio Internet oficial da organização [1]. O debate prosseguiu depois no quadro de uma conferência do movimento Sawassia (Semelhante) de defesa dos direitos humanos e luta contra a discriminação, também próximo dos Irmãos Muçulmanos, a qual incidiu sobre «os movimentos islamitas, entre movimento e partido político» [2]. Parece que a direcção dos Irmãos terá preferido deixar aos que lhe são próximos a condução do debate, de modo a não dividir os seus próprios membros.
A confraria está consciente de que não pode adiar indefinidamente o debate, designadamente o que se refere à relação entre a prédica e o seu papel político. São duas as posições expressas. A ala conservadora considera que o envolvimento político constitui uma ruptura com o projecto islamita lançado pelo fundador, Hassan Al‑Banna, e que este campo, apesar de ser muito importante, não deve em caso algum ser o único terreno de acção dos Irmãos.
A geração representada por Abdel Mon’im Abul Futuh preconiza, em contrapartida, a criação de um partido que obedeça às leis, nomeadamente no que diz respeito ao financiamento e às relações com a Organização Internacional (Tanzim Al-Dawli [3]) que coordena os diferentes ramos dos Irmãos no mundo e que deveria transformar-se em fórum, à semelhança do Congresso Nacionalista Árabe ou da Internacional Socialista.
O debate entre as duas alas permanece discreto mas, enquanto o poder egípcio continuar a recusar reconhecer a confraria, será apenas teórico.
[1] http://www.ikhwanonline.com/
[2] Organizado a 1 de Agosto de 2005.
[3] A Organização Internacional dos Irmãos Muçulmanos assegura a coordenação entre as formações que se autodefinem como “fraternistas”. Ler Wendy Kristianasen, Une Internationale en trompe-l’oeil, Le Monde diplomatique, Abril de 2000.
Setembro 2005